quarta-feira, 7 de junho de 2017

Se nada der certo

(depois da polêmica do evento “SE NADA DER CERTO” em uma escola me deparei com este texto com uma visão de um adolescente com uma visão um pouco diversa sobre o “dar certo”)

Nada deu certo para mim. Nada? Bom, nada do que eu tinha imaginado que seria minha vida. Sempre fiquei na minha, de boa. De boa com quem é de boa, claro. Na minha classe tinha gente muito estranha. Gente que andava largado, parece que nunca se olhou no espelho. Gente que vinha com camisa às vezes meio rasgada, gente que usava uns cadernos do ano anterior, caneta até acabar toda a tinta. Parece que uns tinham bolsa, sei lá. Gente que grudava no professor, fazia um monte de perguntas, não estava nem aí para curtir. Tá certo que não dava para esse povo curtir, pois não tinha nada a ver com a gente, gente de boa. 

Bom, fora, então, as meninas estranhas e os meninos esquisitos, o resto da turma era de boa. Eu estudava para passar nas provas e sempre deu certo. Nunca fui aluno 10, nunca fui aluno 0. Meus amigos vinham sempre em casa, adoravam a piscina, a quadra de tênis, o campinho de futebol, o lanche da tarde.  Eu saia muito, curtia muito. Achava que tudo já tinha dado certo. Só que não.


Um dia cheguei na escola e parecia tudo muito diferente. Meus amigos nem chegaram perto. Ficou todo mundo me encarando, como se a minha camisa estivesse rasgada. Quando entrei na sala, meu lugar estava tomado e quando quis sentar lá me falaram para ir para o canto. Não quis discutir, sou de boa. Quando sentei, todo mundo começou a gritar: ‘filho de ladrão, filho de ladrão’ até o professor entrar, pedir para pararem, dizer que não iria aceitar descriminação em sala de aula. Que vergonha. Nada deu certo.

(8/6/2017)

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