quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Meia história


 
(crônica nova)

Por Luciana Pinsky

Nossa história poderia ter sido uma sucessão de sonhos ou ataques incessantes de predadores. Não foi boa ou ruim porque nem história foi. Foi meia história, quase um filme francês. Não, não, péssima comparação. Filme francês dura tempo demais e nada acontece. Por isso não tem fim. Nossa história durou tempo de menos e tanto aconteceu... por isso teve um meio fim. Ou um fim completo mesmo com direto a renascimento no melhor estilo Caetano Veloso para quem gosta dele (“E quem há de negar que esta lhe é superior”)

Meia história porque começou com tudo, continuou no tranco e acabou por WO. E WO, convenhamos, não tem a força dramática de um violão na cabeça, de discos riscados, de gritos noturnos, de terceiros no caminho, de mudança de cidade ou, muito mais grave, de querer-me atleta.

Você, imagino, tem histórias completas com ciclos bem vividos e ressentimentos guardados. Você só me falou de relance, como de relance me olhou, mas foi suficiente. Eu sempre completei as lacunas, tantas, de tantas formas que hoje já não sei se fazem parte da nossa meia história ou apenas do meu quarto de história.

Mas acho que já me estendi demais. Nossa meia história não é romance, conto ou mesmo crônica. Está mais para haicai, mas haicai eu não sei escrever.
Pensando bem, se nossa história em vez de meia fosse inteira, ela não seria tão prolífera. Completo nossa meia história com história inteiras tão reais que nelas habito ao menos no tempo da escrita. Acompanha-me?

(Encontros II)