terça-feira, 22 de setembro de 2009

Conquistas


(crônica nova)

Por Luciana Pinsky

Foi instantâneo, como nunca antes. Eu já o conhecia, mas só de “oi” e “tchau”. Daquela festa fomos para outra e 5 horas depois éramos um casal. Cinco dias depois me mudei para a casa dele. E mais 10 dias, nossa primeira separação: eu viajaria por 15 dias a trabalho. Trocamos 20 e-mails e marcamos, para 5 meses depois, a data do casamento. E na volta corremos para avisar todo mundo. Assim estamos há 10 anos e 25 viagens juntos.

Ela era linda. Ela era jovem. Ela era apaixonada por mim, de uma devoção tocante. Ela tinha olhos verdes e uma forma de convidar irresistíveis. Débora um dia me chamou para almoçar eu fui sem saber que 2 dias depois terminaria o namoro e que em 4 já nem lembraria da outra a ponto de não reconhecê-la na rua – não fiz por mal, juro. Em 6 dias não nos desgrudamos mais e em 12 ela engravidou.

Ficar por ficar não faz meu estilo. Mas ficar sozinho muito menos. E por acaso faz de alguém? Pois eu sentia que algo especial poderia acontecer com aquela loira esquentada e quente, quentíssima. Mas ela me fervia em banho-maria e fui me empanturrando de Maria em Maria, Ana em Ana, Joana em Joana... Até que a loira surgisse novamente e nunca mais anas, marias e joanas.

Gostei do sujeito desde o primeiro olhar. Mas eu não estava exatamente livre. Nem exatamente feliz. Lembro do toque no meu braço e do cabelo desarrumado de gel – traço de homem vaidoso que eu costumava detestar. Mas o cheiro, o cheiro... Não deu tempo de ficar livre. Enquanto ele não largar o perfume, largo dele não.

Ela me venceu pelas ausências. Ausência de discurso pronto, de exigências, de frescuras femininas, de pedidos, de certezas. Ausência de amigos chatos, de influência da mãe, de complexo de Édipo mal resolvido. Ausência de botox, silicone e rímel. Odeio rímel. Ausência principalmente de fala. Vixi, deus me deu a única mulher da terra que fala pouco, uma benção. Única mesmo porque nossas quatro filhas não param quietas.

Vi e não gostei: feio. “Ele é gente boa”, disseram. Não adiantou. Sou tão bonitinha. Faço ginástica cinco vezes por semana, sou religiosa na manicure, cabeleireiro, limpeza de pele e em outras coisinhas mais. Mereço um moço razoável, uma barriga de tanquinho, olhos azuis, morenão. Ele disse: “ok, espero”. E foi se embelezando sei lá como, sem mudar nadinha, de repente estava um encanto. A mão máscula, forte. As pernas decididas. E a voz, a voz.

- Voz? Ah, o Ricardo me ganhou com sotaque e biquinho. Ele era amigo do meu namorado, um cara normal como tantos da faculdade. Mais de ano depois descobri que ele morara na Guiana Francesa quando criança e falava francês. E vinha ele com ça va para cá, dizia que beau combinava com belle, queria decidir tudo na face et pile, só dava instruções à gauche à droite, en haut en bas e antes de chegar em vélo eu já era dele.