segunda-feira, 13 de julho de 2009

Voo apaixonado



(conto com nova ilustração)

A intensidade daquela relação transparecia nos estragos. Começou com perna de cama e de cadeira no chão: marca da paixão intensa. Depois foi uma frigideira na parede, sinal de problema. Por fim, a costela quebrada mostrou que o amor já era. Já?

Ele conheceu Renoar, linda morena. Ela tentou Baltazar, sempre tão prestativo. Cama, cadeira, frigideira e costela intactos. Já o coração deu marcas de cansaço.

Ele largou Renoar, ela fugiu de Baltazar. Nunca mais amar, nunca mais quebrar. Ele ficou com suas argilas, ela investiu seriamente nas palavras cruzadas.

Em uma noite fria de inverno temporão, ele saiu do seu portão e foi ao bar atrás de Renoar. Com letras e mais letras na cabeça, ela precisava espairecer e chamou novamente Baltazar, das mãos quentes e cabeça leve.

Ele bateu os olhos nela e bateu boca com Renoar, que foi embora, sentida. Ela só o viu quando a bela morena levantou da mesa. Ele a chamou com o olhar, ela apontou para Baltazar. Ele esfregou as mãos e as soprou, mostrando que era ainda mais quente que o concorrente.

E os estragos voltaram. Pratos voaram. E os dois se mandaram para a praia. O carro derrapou. E ela finalmente voou.

(ilustração: Thomás Camargo Coutinho - http://www.flickr.com/photos/thomastaipa/)

14 comentários:

olharesdoavesso disse...

Amores trágicos amores mágicos e a dificuldade(ou seria impossibilidade) de escapar dos vôos) Belo conto, Lu! Beijos
www.olharesdoavesso.blogspot.com

Anônimo disse...

Adorei Lu!! Fazia tempo que não passava por aqui né? Esses seus contos encantam mesmo! =D

Saudade.

Bjs

Anônimo disse...

Luciana, ainda não encontrei seu livro. Mas assim que achar, lê-lo-ei com sofregudão.
bjs
Leo

Anônimo disse...

Aliás, sofreguidão (antes que "sofregudão" vire um neologismo malcioso).

Anônimo disse...

Oi Luciana

Você não lembra de mim, mas lembro-mo (pouco, confesso) de você. Trabalhou na revista Época, não foi?

Acabo de ver seu blog indicado pelo Noblat. Gostei dos textos - leves e espirituosos.

Vou atrás de seu livro!
Parabéns!

Abs,
Edgar

luciana pinsky disse...

Rafael e Amandita, muitíssimo obrigada!

Leandro, você deve achar o livro fácil, mas caso vá em alguma livraria grande em Brasília e não encontre, avise-me, por favor.

Edgar... sim, trabalhei na Época, primeiro em Brasil e depois como correspondente em Salvador. E você?

Anônimo disse...

Eu trabalhei somente em São Paulo. Trabalhava na fotografia, junto com a Luludi e o Fortunato.

Valéria Martins disse...

Que bonito, Luciana.
Um beijo,

Valéria Martins disse...

E o blog tá fazendo sucesso, hein?
Bjs

Valéria Martins disse...

Oi, Luciana! Então, que pena! Você veio para o Rio quando eu saí. Mas uma hora dessas a gente vai se encontrar!

Pois é, agora que estou frila e podendo me dedicar mais ao blog, ele está crescendo. Quanto mais energia a gente põe, mais cresce. Como tudo.

beijão!

Jean Cristtus Portela disse...

Olá, Luciana! De vez em quando passo por aqui. Que boa surpresa tive hoje ao ler essa sua prosa cantante! Belo voo! Abraços, Jean.

Unknown disse...

Belo blogue, belo curriculo, belos trabalhos
Parabéns
Vc é parente da amiga Mirna PisnkY
Sucesso
Silas Correa Leite
www.portas-lapsos.zip.net

Anônimo disse...

FORMULÁRIO DE INSCRIÇÃO PARA CADERNO LITERÁRIO 13
MARÇO/2009




( x ) Autorizo por parte de Pragmatha e jornalista Sandra Veroneze a publicação gratuitamente da poesia abaixo, de minha autoria, na revista eletrônica Caderno Literário, edição de março de 2009. Tema sugerido: o imaginário do navegador. Fechamento: 20/03/2009



Nome: Silas Correa Leite –E-mail: poesilas@terra.com.br

Poema:




Novembro (Depoimento Testamento)

“Escrevo desde que aprendi a ler.Tive quintal urbano e rua descalça de terra cor-de-rosa. Rabiscava meus desenhos, letras e personagens pueris, em pedaços da madeiras, tábuas de pinho e retalhos de compensados da Marcenaria Estrela. Tive cachorro, árvore, rio, carrinho de rolimãs e nuvens por perto. Minha infância pobre foi o meu maior tesouro. Dizem que eu conversava muito sozinho. Só não reparavam em quem me respondia. Em casa era castigo ler dicionário, bíblia, revistas e jornais. Sempre fui um ledor voraz como se uma fuga para a terra do nunca. E lia de tudo. Do silêncio letral de minha mãe Eugênia, a prelúdios, auroras, gibis, pensamentos; afetos escondidos e ternuras coloridas com algibeiras de pedras. E também os olhares do meu Pai com seu acordeom vermelho. Fui criado desde que nasci entre mulheres. No começo eu tinha um infinito medo de morrer. Escrever me fez tentar a recriação de uma outra vida, um novo céu, uma nova terra. Ou mesmo a possibilidade de deixar minha dor de existir como testamento lírico, letral em poemas, canções, causos e desenhos abstratos, primitivos, heráldicos. Escrever para mim é mais importante do que viver. Acho que a minha alma-nau respira quando eu estou escrevendo. E assim me livro de mim, ou de ser o que sou enquanto terrestre e finito. E escrevo muito. E escrevo sobre tudo. E escrevo o tempo todo como se uma catarse onírica. Escritor é como um músico, um pintor, um fotógrafo ou retratista. Registra seu tempo e as amarguras de seu tempo. Sinto a dor dos outros nos ombros. Ainda trago a minha infância comigo. Levo Itararé por onde for, com seus quintais, seus rios, seus pinheiros, tempestades, ruas de cacau quebrado, paralepípedos e pessoas. Minha infância em Itararé o meu maior tesouro. Crio personagens para povoar o mundo que sonho recriar dentro de mim, e, depois, para fora de mim, nos livros. Faço poesia para ter companhia. As pessoas riem muito comigo, como se eu tivesse um nariz vermelho de palhaço... O elogio que mais recebi, a vida inteirinha, foi: -Você não existe!.

Faço algumas pessoas chorar com o que escrevo em verso e prosa, e assim

Quando eu morrer, espero poder vir a escrever no Céu.

As nuvens, então, chorarão por mim.

Silas Correa Leite, Itararé-SP
E-mail: poesilas@terra.com.br
www.campodetrigocomcorvos.zip.net
www.portas-lapsos.zip.net

dima disse...

adorei!