(crônica nova - 2ª da trilogia sobre o tempo)
por
Luciana Pinsky
Dormi adolescente e acordei
velhinha, me perguntando quanto tempo mais? Quanto tempo até que o branco dos
cabelos invada minha alma, até que as rugas ao redor dos meus olhos finalmente
me ceguem? Quanto tempo com sede? Quanto tempo para escrever, para ver seu
sorriso e relevar seu ranger de dentes? Quanto tempo ainda pensando, comendo,
tomando banho? Querendo saber do sol, preocupada com a chuva? Quanto tempo para
ler, aprender, explicar, me entender? Quanto tempo tornando textos, livros;
gente, autor; ideias, páginas? Quanto tempo respirando sem adrenalina?
Um dia a mais é um dia a
menos.
Tempo fugidio, que desperdiço
como já fui desperdiçada por aí. Um minuto não é nada, uma hora não é nada, um
dia nada é, uma semana, um ano, uma década que se vai e o que fica? Quem fica
em mim? O que fica de mim? Onde permaneço? Permaneço?
Quanto tempo fingindo.
Fingindo não fingir. Quanto tempo fugindo, quanto tempo perdido em bomba de
chocolate (uma obsessão). Todo tempo é pouco para ver o mar, para estar no mar,
para ouvir o mar, para me encantar com o mar. Quanto tempo para amar, só amar.
Quanto tempo para fazer novos amigos porque os velhos já me conhecem errado.
Quanto tempo para conseguir ser outra, outras. Quanto tempo para sentir o que nunca senti. O
que existe ainda para ser sentido?
Quanto tempo até meus olhos
já não procurarem, até minhas pernas não me bastarem; até não sobrar nada
daquela criança, a não ser o ciclo das samambaias decorado, que permanece sob
meus protestos?
Vou calcular todas as minhas
horas porque não quero sorrir porque é educado, beijar porque é o certo, comer
sem vontade. Não. O tempo que me resta é meu, não seu. Para me perder em você,
não de você. Meu tempo, meu tempo, Meu Tempo.
Quanto tempo ainda com
vontade, ainda com coragem, ainda à procura? Quero vida. Quero pulmões em
operação normal, pernas trabalhando, bicicleta. É isso. O tempo que me resta inspiro
e expiro fluentemente; tão fluentemente que nem noto inspiração e expiração.
Quando não tiver mais esse tempo, nem esse tempo, meus meninos saberão: já não
serei eu. Meu tempo, ele sim, expirou.
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