Se nada der certo
(depois da polêmica do evento “SE NADA DER CERTO” em uma
escola me deparei com este texto com uma visão de um adolescente com uma visão
um pouco diversa sobre o “dar certo”)
Nada deu certo para mim. Nada? Bom, nada do que eu tinha
imaginado que seria minha vida. Sempre fiquei na minha, de boa. De boa com quem
é de boa, claro. Na minha classe tinha gente muito estranha. Gente que andava
largado, parece que nunca se olhou no espelho. Gente que vinha com camisa às
vezes meio rasgada, gente que usava uns cadernos do ano anterior, caneta até
acabar toda a tinta. Parece que uns tinham bolsa, sei lá. Gente que grudava no
professor, fazia um monte de perguntas, não estava nem aí para curtir. Tá certo
que não dava para esse povo curtir, pois não tinha nada a ver com a gente,
gente de boa.
Bom, fora, então, as meninas estranhas e os meninos esquisitos, o
resto da turma era de boa. Eu estudava para passar nas provas e sempre deu
certo. Nunca fui aluno 10, nunca fui aluno 0. Meus amigos vinham sempre em
casa, adoravam a piscina, a quadra de tênis, o campinho de futebol, o lanche da
tarde. Eu saia muito, curtia muito.
Achava que tudo já tinha dado certo. Só que não.
Um dia cheguei na escola e parecia tudo muito diferente.
Meus amigos nem chegaram perto. Ficou todo mundo me encarando, como se a minha
camisa estivesse rasgada. Quando entrei na sala, meu lugar estava tomado e
quando quis sentar lá me falaram para ir para o canto. Não quis discutir, sou
de boa. Quando sentei, todo mundo começou a gritar: ‘filho de ladrão, filho de
ladrão’ até o professor entrar, pedir para pararem, dizer que não iria aceitar
descriminação em sala de aula. Que vergonha. Nada deu certo.
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